segunda-feira, 27 de abril de 2015

III Seminário Internacional Arte!Brasileiros Arte Contemporânea no Século XXI



No final de 2014, foi realizado o III Seminário Internacional Arte!Brasileiros Arte Contemporânea no Século XXI em São Paulo e no Rio de Janeiro. Promovidos pela revista ARTE!Brasileiros, os encontros internacionais reuniram personalidades de algumas das mais consagradas instituições de artes visuais do Brasil e do mundo.

Extraímos o poema lido na abertura do evento pela crítica de arte, Lisette Lagnado, que é uma verdadeira síntese do que é a arte contemporânea:


"Pensar o contemporâneo é pensar

o tempo presente,
pensar um tempo atravessado por conflitos
sociais e religiosos
extremamente complexos e delicados,
que não podem nem omitidos,
nem camuflados, nem banalizados.

É também pensar a arte 
sem o regime aurático do belo,
do caráter único do gênio artístico.

E também indica que ainda há muita
nostalgia dessa aura perdida,
ou dissolvida nas instâncias do cotidiano.

Pensar o contemporâneo na arte
é pensar a politização da arte para
além das mídias de massa e para 
além da ideologia de mercado". (...)

(...) "Nessa travessia
devem embeber seu olhar
de referências anteriores,
treinar os ouvidos para as vozes da dissonância,
acolher a transdisciplinaridade como disciplina 
de trabalho.
Aguçar a intuição,
formular questões esdrúxulas,
problematizar o absurdo do presente.
Só assim será possível pertencer ao 
contemporâneo (não a um modelo exaurido).

Só desenvolvendo uma imagem crítica 
é que se pode descobrir "de quem somos 
contemporâneos", ou seja, com quem vivemos
com quem dividimos um mesmo planeta,
um território íntimo.

Nada do que estou dizendo aqui é novo
e isso também é uma característica do
contemporâneo,
reconhecer que somos produtos de uma 
história e agentes de um futuro comum.

Sejam todos bem-vindos a esse debate crucial,
um debate que requer toda a nossa atenção
se quisermos inscrever uma narrativa
que nos represente, enquanto povo,
enquanto cidadão emancipado,
enquanto amante da liberdade artística
e da autonomia de pensamento".

Lisette Lagnado é crítica de arte.

Bibliografia:
Arte!Brasileiros debate a contemporaneidade. ARTE!Brasileiros. São Paulo, n.27, p. 24-29, 2014

Você pode ver a cobertura completa do III Seminário Internacional Arte!Brasileiros Arte Contemporânea no Século XXI

Veja a íntegra das palestras do evento no RJ

Veja a íntegra das palestras do evento em SP

Postagem: Álvaro Nassaralla

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Lisérgicos olhos

Saulo Abip Gonçalves


A sala cresce em todos os lados
O álcool desce em todos os lábios
Crescem também as heras nas pontas dos dedos queimados
Cresce também a espera pela descida dos anjos ébrios
Esperam, talvez loucas, toscas formas derretidas
Esperam, talvez roucas, estranhas vozes esquecidas
Rezando, deito-me no banco da praça a pensar
Deitando-me, espero que faça o céu novamente dançar
Na sala, na praça, o que me cala é a farsa
Estala, arregaça, minha consciência é esparsa
Espero, inteiro, a sobriedade voltar
Espero, primeiro para sair do lugar
E a lua sorri e não passa, ri “perdi a tocar”
O sol não nasce e, desgraça, a rima que vem-me a sarar
Mais novo deboche dos astros estranhos
Deboche mais novo, me espanta o tamanho
A noite não passa e o dia não vem
Perdido me encontro entre o aqui e o além
As horas que escrevem entre as linhas de quem
Perdido se encontra sem procurar ninguém
As cores da aurora ou do ocaso distorcem
A distorção de fora ou do ácido por dentro
Lisérgicos olhos que não me soltam nem em pensamento


Mais poemas de Saulo Abip em seu blog Like Napalm

terça-feira, 7 de abril de 2015

Gravura Galeria de Arte apresenta a exposição “Palimpsexto” de Iara Zippin e Tita Macedo




SERVIÇO:

Abertura: dia 9 de abril, quinta-feira, às 20h
Exposição “Palimpsexto”, de Iara Zippin e Tita Macedo
Local: Gravura Galeria de Arte - Rua Corte Real, 647 – Bairro Petrópolis - Porto Alegre - RS
Visitação: até 09 de maio de 2015
Horário: de segunda a sexta, das 9h30 às 18h30; sábados, das 9h30 às 13h30


Mais informações:

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Por uma arte pós-contemporânea

A arte contemporânea se perdeu pelo e para o simplesmente financeiro. Como sempre o foi a arte, uma representação das impressões do seu próprio tempo, a arte contemporânea também representa bem a nossa época, onde os maiores valores são o dinheiro e o entretenimento. 

Vivemos uma etapa da civilização em que prevalecem a ausência de profundidade em nossos sentimentos e a falência do pensamento crítico e, sobretudo, um tempo em que não toleramos qualquer tipo de dor ou sofrimento. Etapa da civilização do predomínio do superficial, do decorativo, do efêmero, da tecnociência que tudo pode e que nos governa de um modo quase absoluto. 

Agora, somos em grande parte guiados pelas máquinas e escravos dos utensílios que atrofiam a nossa imaginação. Somos seres alienados, aparentemente felizes e ao mesmo tempo angustiados pelo nosso vazio existencial (somos celebridades vazias para os outros ou para nós mesmos). 

Acredito que devemos nos empenhar para que essa etapa seja rapidamente superada: o humano como humano está se perdendo inteiramente ao que é fácil e superficial. Um novo mundo terá de emergir. Uma nova proposta de arte terá de aparecer. Essa concepção de contemporaneidade (como a que acontece hoje) é um grande equívoco. Um grande mal que adoece a todos nós.   

Para sobrevivermos como humanidade, temos de readquirir nossa capacidade de reflexão crítica, de sermos novamente governados por nossos corações e nossas mentes. Buscar uma nova concepção de individualidade, revalorizando os nossos ideais, enfim, um novo modelo de conceber a arte. Uma arte que supere os desacertos da atual arte contemporânea. Uma arte que resgate o seu verdadeiro potencial criativo e que não seja predominantemente regida pelos interesses financeiros de mercado.

Sugerimos, então, que inicialmente essa nova forma de fazer arte seja denominada como pós-contemporânea.

José Augusto Silveira
06/abril/2015  

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Realizamos com sucesso a palestra do artista Otavio Schipper



Realizamos com sucesso o nosso terceiro encontro do Grupo de Discussão de Arte Contemporânea, tendo como artista convidado, o carioca Otavio Schipper.  O evento aconteceu no Auditório da Livraria da Travessa (Shopping Leblon), no dia 25 de março de 2015. 

Na palestra, Schipper nos falou de sua vida antes da decisão de ser artista, o que aconteceu após concluir o curso de Física na UFRJ. 

Sua arte tem uma natureza nitidamente conceitual em que transpõe cenários e objetos do passado para o nosso presente. Valendo-se de uma experimentação subjetiva de tempo e espaço, o artista utiliza a proposta do conceito ready-made, onde objetos (geralmente industrializados) são ressignificados como arte. 

Otavio Schipper falou de processo de conceituação e execução de suas obras, apresentando imagens das 
instalações POCKET LANDSCAPE, ELEVATOR MUSIC, MECHANICAL UNCONSCIOUS, EMPTY VOICES e OPTICAL MEMORY.  








Veja mais sobre o trabalho do artista em Acontecimento e corpos


Texto: Alvaro Nassaralla

segunda-feira, 23 de março de 2015

Acontecimento e corpos

(Texto referente a exposição de Otavio Schipper e Tove Storch na Galeria Anita Schwartz em Janeiro de 2015)

É noite quando chego - adentro - na galeria. O salão é só luz. Só claridade. É manifestação flutuante o que acontece no piso inferior. São faixas de tecido, diáfanas, suavemente estendidas de canto aos cantos, em vários níveis, contornando  por encanto quase todo o ambiente. Manchas com aspecto de 'chafé', entornado, amarelado, enferrujado, intercalam as superfícies nos fazendo - suavemente - aterrissar. Retornamos, então, repletos de imaterialidade e quase sem tocar no chão. 

Por uma escada de real existência, alcançamos um segundo piso. Em outro espaço, em um outro salão de muita luz, nos confrontamos com corpos materiais que, embora suspensos, parecem cair ao chão. São objetos, são instrumentos óticos intensamente personalizados em suas autonomias maquinais. Se veem, se entreolham, mas também veem que nós os vemos: se veem nos mostrando tudo aquilo que talvez nós, como humanos, não vejamos. Veem uma outra realidade de apenas - e muito mais - sólidos esféricos de dupla face: são as moedas metálicas, prateadas, de pura e imanente materialidade. Em cima da mesa, fotografias antigas, reveladas em delgadas lâminas de vidro, tempos passados retornando ao presente, nos entreabrem um futuro improvável.

Nossos corpos e nossas emoções nos conduzem pela mesma escada, dessa vez para baixo, de onde viemos. 

O sentimento é de que vivemos em um sonho. Um sonho que proporciona a possibilidade de nos tornarmos leves, fluidos e assim alcançar um outro estágio: o da corporeidade. Curiosa experiência proporcionada pela arte, a de conseguir inverter as leis pensadas como eternas e universais da física em que os corpos pesados estão sempre 'a-baixo' dos que são mais leves e têm como natureza flutuar. 

Enfim, saio, ainda sonolento, ainda é noite. 

José Augusto Silveira
23/março/2015

segunda-feira, 9 de março de 2015

Luz e pigmento


Mary Weatherford
Palm Reader, 2013
Flashe and neon on linen
93 x 79 inches
Obra exposta na Galeria Brennan & Griffin, NY



Experiência no mínimo bizarra esta da combinação da 'cor pigmento' com a 'cor luz'. Isto é, da combinação da superfície pintada e dos artefatos que emitem a fosforescência do neon. Combinação do pintado ontem com a luz ofuscante do agora. 

A luz não mais ilumina a obra, mas faz parte dela. A luz não é mais o que permite a construção do nosso mundo (como no período da pintura impressionista), mas ela faz parte da própria obra. Mistura de artesanato pigmentado com artefato de tecnologia luminosa. 

Sem dúvida é uma nova estética, uma nova construção, significando mais uma dobra na perpétua transformação da arte como um instrumento interpretativo do que acontece aqui e agora.

Texto: José Augusto Silveira