Alvaro Nassaralla (01/mar/15)
Distância do mar é a notícia de quem chega pássaro.
Maré entra às lufadas de ondilhas
abrindo braços que lambem os dois lados da boca
abrindo braços que lambem os dois lados da boca
do canal.
Pingam estranhamentos no horizonte sem luz.
Os cargueiros
a quase 180 azimutais
aumentam e diminuem de tamanho
segundo as regras das cintilações.
– Torpedeio-os de olhares.
aumentam e diminuem de tamanho
segundo as regras das cintilações.
– Torpedeio-os de olhares.
– que é o pier –
pescadores botam fé no novo arremesso.
O barulho da linha vive no ar espesso
e o mar se inflama com polpas de transe: iscas.
O mar roxo fechado
traz faixa reflexa na linha d´água letal
filigranas acobreadas
lençóis desdobrados como escamas de mica
para dizer que há postes nas margens.
Como todas as notícias são
sempre não tão novas assim,
as ondas estouram longas
com seu abafado barulho de arrasto
prometendo línguas entorpes
que até os mais desesperados amantes não podem.
– Anzol,
A distância não reclama saudade das coisas
grandes, mas dos detalhes.
meu genuíno irmão de cavar a sangue
e trazer naufrágios e submarinas estrelas,
e trazer naufrágios e submarinas estrelas,
onde estão as máquinas encalhadas da aurora?
Não posso quedar choro
pois seco estou
e o uso que o ar sem brisa e talco faz dos lábios
minerais da noite
encarrega-se de travar lutas abissais
contra nossos corações-espadachins.
Maré infla. Fecunda o repuxo e peso dos astros.
Uma dupla de andorinhas passa e me leva o olhar
ao cinturão de Órion,
cingentes contas de lã alfabetas
para leitores lácteos lançados à própria sorte.
Quem chega pássaro
sonha um mundo
da família do sorriso irmão,
e parte sutil
como névoa que só baixa
quando o canal deixa de fazer charme de puta
e se retorce em lençóis de plumas marinhas
sobre as coxas madrugalhas.
Parte sutil
quem chega pássaro.
Parte
sutil
sem
cerimônias.
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