quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Mechanical Unconscious - Otávio Schipper


Mechanical Unconscious

Galeria Anita Schwartz | Centro Cultural Maria Antonia

Sound Installation 

2010




The Mechanical Unconscious

The exhibition space resembles that of an empty and abandoned albeit fully functioning laboratory. The works are mechanisms; at first sight, they are utterly anachronistic. The scene possesses a dreamlike quality. But what type of experiment is there in unceasing execution if the mechanisms appear to have taken on a crazed, disordered life of their own as redress for their utilitarian obsolescence, disobliged from their corresponding function the irrational revenge of the machines? How could we have kept up our relationships to these strange things for so long? This thing that, up until a while ago, had been a telephone what is it now? A curious object, possibly, but no more. In Chaplin's Modern Times, man struggled with enormous mechanical machines. Nowadays he does not even do that. The thing that threatened Charlie has hidden itself. It has vanished from sight to become possibly even more threatening. So this exhibition suggests the drawing of a parabola: the sonorous evocation of mechanical life through contemporary technology. The digital signs, the synthesized voices and the electronic noises that ring incessantly and madly mimic the paraphernalia of sound that surrounds us, like a continuous, insistent and fruitless prayer to the mechanical unconscious. The litany of sounds would awaken those mechanisms, bring them back from their sleep, restore them to existence and remind us of alienation, yet these noises also happen to be the infernal din of that which we call progress, which gives life while simultaneously annihilating it.

text by Paulo Venancio Filho

Vento de ressaca

VENTO DE RESSACA

Alvaro Nassaralla09/out/13


Outubro
no sol
vento de ressaca invade minha
camisa, botando-a a dançar
desengonçada.

Outubro vento de ressaca.
Enxergo-te primeiro como elegante desespero,
despreparo da chuva que se foi
e o vento queimando a cidade com jasmins frios,
oxidados de uma nova primavera.

Fino manto
supõe distâncias,
vento malhado de cheiros que procura
a areia engomada,
que a procura da mais alta alegoria do céu:
vemos Vênus mexendo-se cintilante a dizer
que tudo se resume na noite que inda vem,
e a tarde passa
e eu estava apenas na beira do trilho,
e o trem passa na velocidade com que o barulho da batida se repete
nas emendas.

Pego no seio ensaguentado do vento
e num calhamaço de mariposas trajando poemas nos desenhos das asas
para que me palpitem esperanças aniquiladas.
E vamos à luxúria branca e ouro
que o vento traz desabotoando fêmeas de tantas longitudes
quantas possa o poeta amar.
E traz sementeiras e naufrágios
e ilusões gostosas de morder.
E não se vai o vento de ressaca
antes de arrancar algumas telhas e pétalas,
tudo ao seu tempo
para anunciar um novo sol companheiro.

Mas é punhal bandoleiro no coração
sensível,
desde que o próximo passo seja não se conformar
com as inverdades do mundo.
Posso dar meu urro de revolta ao vento,
somente mais um sedimento que ele já carrega,
somente mais uma duna movida de lugar.                                                                 

Que seja: uma duna movida de lugar já é alguma coisa.

Outubro, vento de ressaca.

Outubro é um trem veloz que passa e
deixa o cheiro de querosene nos trilhos.

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Mais poemas do autor no blog Tardes Poemas.

A explosão do silêncio



Gosto do silêncio. O silêncio me fala. Me fala e muito, ou quase tudo.

A fala do silêncio me faz pensar, imaginar.

O sentimento da fala silenciosa me faz ver, me faz sentir, abre-me para o perceber. Perceber com todo o possível: pelos olhos, pelos ouvidos, pelas narinas, pelas mãos e por tudo o mais, aflorando então do íntimo do ser - poderosamente - o mágico, o sonho, a imaginação.

E é aí, e é assim, quando somos impulsionados (quase obrigados) a nos falar, conseguimos externar das mais variadas formas, usando os mais variados recursos, tudo o que foi produzido por nossa imaginação.

É de uma necessidade enorme, uma verdadeira compulsão, quase uma alucinação. E a essa explosão de sentimentos, damos o nome de intuição artística. É um tempo de verdadeiro tormento, desesperador, que só termina quando a obra de arte é finalmente produzida.

José Augusto Silveira
novembro/14